domingo, 6 de julho de 2008

DO SÉCULO VIII, PARA O SÉCULO XXI

Lendo hoje, no século 21, uma obra concebida para um espaço físico e cultural de séculos anteriores, sente-se o impacto da linguagem. Segundo o pesquisador e mestre Serafim da Silva Neto (História a Língua Portuguesa), a nossa língua, dita normal, só foi difundida no Brasil a partir de 1808 com a vinda da monarquia e, ainda assim, no núcleo de ocupação do território que abrangia SP, GO, MG, e MT. Até então, nenhum falar era modelo e ideal lingüístico, e estavam sempre em choque: a língua indianizada – o tupi em contato com o português-, a linguagem rústica de pessoas incultas de várias procedências, e a língua dos reinóis. A língua literária sofria, obviamente, com esses percalços, apesar dos esforços dos jesuítas e dos 1752 brasileiros que estudaram na Europa naquele século. O Brasil já era quase uma nova nação, uma língua vai segundo a sua índole, contornando obstáculos e evoluindo, mas foi com Tomás Antônio Gonzaga, e o grupo de que fazia parte, que apareceu o melhor nas letras portuguesas do século 18. Daí algumas diferenças de linguagem em Mistério sob as Luzes da Arcádia. Em notas de rodapé Francisco vai atualizando valiosas informações sobre fatos históricos importantes.
Ainda segundo o mestre Serafim da Silva Neto, a lírica de Gonzaga apresenta-o com alma e sensibilidade de mestiço, aquilo a que Olavo Bilac chamou a “flor amorosa de três raças tristes”. Ele ia se casar com a sua Marília (Maria Joaquina Dorotéia de Seixas), ia assumir o cargo de Desembargador, era Ouvidor e poeta. Mas foi acusado de participar da Inconfidência Mineira, ele próprio na masmorra da Ilha das Cobras esperando a sentença, um cordeiro a ser sacrificado. Foi preso, julgado e desterrado.

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